Sua Excelência, o Professor

O que leva alguém a abraçar a carreira de professor? O que leva uma pessoa a se decidir por um ofício que exige disposição cotidiana para ensinar, envolver, surpreender, confirmar que o futuro existe?

Hoje, é dia do professor.

Hoje e todo dia. Porque todo dia, no “chão da escola”, há uma troca de experiências que instiga os alunos a perceberem que podem mais. Há desafios de envolver as famílias para que estejam presentes, de trabalhar currículos para que sejam significativos, de compreender heterogeneidades. Os alunos são únicos. As turmas não se repetem. Portanto, a formação continuada do professor é fundamental para o seu ressignificar. Nós nos reinventamos para surpreender. Aos nossos alunos e a nós mesmos.

É preciso gostar do que se faz. E de fazer coletivamente. Evidentemente, não se deve ter a ingenuidade de achar que basta o amor pelo ofício. É preciso pensar no sistema, na carreira. A carreira, aliás, está longe de ser atrativa no aspecto financeiro.

No passado, quando poucos tinham acesso à escola pública, um professor ganhava como um juiz de direito. Hoje, vejam quanto ganha um juiz, um promotor de justiça e um professor. Por que tanta diferença? O piso do magistério foi uma conquista, mas está longe do ideal.

Além do salário, falemos de respeito. Vejam quantas reformas já foram propostas em âmbito federal, estadual e municipal. Em muitas delas, esqueceu-se de “sua excelência, o professor”. Como podemos reformar o ensino sem envolver quem está nas escolas todos os dias? De forma vertical, de cima para baixo, nunca dará certo.

Costumamos usar exemplos internacionais mesmo sem conhecê-los com profundidade. Mas o fato é que Finlândia ou Espanha, Coréia ou Japão, Hong Kong ou Israel têm em comum o profundo respeito ao professor. E à sua autonomia. É o seu agir que desperta a criatividade e o protagonismo dos alunos.

O melhor presente para os professores no dia do professor é jamais deixá-lo de lado. A bandeira da educação tem que tremular acima de bandeiras ideológicas ou partidárias. As mudanças educacionais não podem servir a governos, mas ao Estado Brasileiro. A educação é o caminho para reduzir as desigualdades e permitir que filhos de ricos ou pobres, nascidos no Sul ou no Nordeste, imigrantes ou indígenas, brancos ou negros, tenham direito a revelar seus talentos. Os maestros sabem disso. Só que, às vezes, não são ouvidos.

O que leva, então, alguém a abraçar a carreira de professor? Talvez a teimosia, ou resistência, ou um sonho coletivo de continuar professando a crença na humanidade.

Por: Gabriel Chalita (fonte: O Imparcial – Araraquara) | Data: 15/10/2016

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