O mergulhar nas emoções

21.11.2021


(Gabriel Chalita)

O ano se passou como seta certeira lançada por um destino rebelde que teimei em acreditar. E você permaneceu vivendo. Eu também.

Notícias suas, tenho em gotas. Não dou espaço para detalhes ainda mais doridos. Palavras não devem ser desperdiçadas, ainda mais quando cortam.

Eu sei que você me deu sinais. E eu fui incompreendendo os dias despertados de um azul lindo ao seu lado. Era beleza demais para aceitações. Era estabilidade demais para uma alma sedenta como a minha.  Desapercebi o que causava, quando causava nos escondidos de outras casas.  E você foi doendo. E dizendo com a dor que não resistiria muito. Eu desacreditei. E prossegui no meu necessário buscar, na minha carência indomável.

Até que um dia, depois de permanecermos deitados sem conciliar o sono, resolvi. Disse a você que você não bastava. Expliquei sobre Camila e, então, arrumei coragem e parti.

Era um dia sem azul e eu não me dei conta. Você chorou abraçada ao nada que te ofereci. Disse algumas palavras entrecortadas por lágrimas e por silêncio. Suplicou que eu desistisse de desistir. Eu prossegui. E saí fechando a porta de uma casa em que moraram tantas histórias nossas, tantas lindas histórias nossas. Você saiu no dia seguinte, pelo que me disseram. 

Eu viajei com Camila e quis não saber de nada.  Você foi viver com uma amiga para amenizar a dor da vida que morreu. E não sei como meu irmão chegou até você e ocupou os vazios.  Não entendi. Falamos pouco. E hoje, pouco sei da sua felicidade.

Camila já não me faz sentir amor. É em você que penso, mas penso que é tarde para pedir perdão. No velório do meu tio, você acenou educada, mas prosseguiu com os braços aconchegando meu irmão. Meu irmão que pouco gostava do meu tio, mas que se fez frágil por você. Por você ou por mim, não sei.

Não sei se é correto um irmão amar o amor do irmão. Disse nossa irmã que ele vive os mais felizes dos dias desde que vocês começaram a viver juntos.  Que se fez um homem romântico. Que te surpreende com constância.

Olho para o meu tio morto e desejo a morte dos desejos que doem em mim.  Meu irmão e eu nunca nos demos bem. Falamos o desejável para a manutenção de alguma civilidade.  Não consegui encontrar o que nele possa interessar a uma mulher tão interessante.  Passo pela casa de vocês e olho com disfarce para a janela que esconde o que vocês sentem. Hoje mesmo, vesti uma blusa tricotada por você. E me senti agasalhado. Busquei algum cheiro do que fomos, mas o tempo retirou. Faço votos de que ele te faça feliz. Choro, enquanto penso o que penso agora. Que ele te faça feliz. Que ele tenha a sabedoria que eu não tive. Que ele perceba que a embarcação rasga o azul dos oceanos com leveza e não com sobressaltos. Triste de mim desacostumado à paz. 

O ano se passou sem você, pela primeira vez, desde que nos juramos eternidade.
Talvez tenha que ser assim. Talvez seja melhor assim eu acreditar. Ou quem sabe nos encontremos novamente…Quem sabe?





 

Leave a comment