Os recentes acontecimentos políticos colocaram na ordem do dia a palavra “traição”. Há sempre um sentimento de repulsa em relação ao traidor. Exemplos clássicos na história são as traições de Jesus por Judas, de Tiradentes por Joaquim Silvério dos Reis e do Imperador César por Brutus. As palavras “traição” e “tradição” vêm do latim traditio, derivado de tradere, que significa entregar, passar adiante. Tradição é, assim, passar adiante costumes importantes, valores, hábitos que constituem um grupo. Traição também é passar algo adiante. Mas algo que prejudica alguém, algo que destrói o outro. Informações que podem fazer com que um país perca uma guerra. Daí o rigorismo contra os traidores na vida militar.
Há traição nas relações amorosas. Um homem jura a uma mulher ser-lhe fiel e a trai. Age nos esconderijos para que ela não descubra. Não quer ser desmascarado. Há traição na vida empresarial. Imaginem uma empresa que vai lançar um produto e alguém aceita benefícios de um concorrente para contar as estratégias desse lançamento. Há traição nas amizades. Um segredo que deveria ser respeitado, nascido numa conversa de confiança entre pessoas. O pretenso amigo passa adiante o segredo. Trai o outro por razões de ordem diversa.
E na política? Certamente a política é um cenário propício a traições. A tradição da política, no sentido correto, deveria ser a preservação do bem comum, a verdade do cuidar coletivo que passa de geração a geração. O estudo dos inspiradores do passado, na teoria e na prática. Ao que se assiste, infelizmente, não é isso. Trai-se por vantagens. Trai-se por dinheiro. Trai-se por poder. Quem um dia senta-se à mesa como aliado, no outro fareja o sabor de poder que a outra mesa pode oferecer. E se esquece do jantar de ontem. E se alia ao outro exército sem o menor constrangimento. Trair o povo vem se tornando regra e não exceção. Tristes tempos em que as justificativas nada justificam. Em que amizades e alianças nada valem. Em que a verdade é um detalhe.