Esse é o título de um musical que está em cartaz, em São Paulo, no Teatro Nair Belo. O autor é um jovem dramaturgo, talentoso escritor, Eduardo Bakr. A trama se passa em histórias cruzadas de dois homens e duas mulheres. Os nomes já surpreendem e apresentam uma semântica própria para estabelecer que, o que ocorre, ocorre entre as mais diversas relações de amor. Os atores, Amanda Acosta, André Dias, Jarbas Homem de Mello e Sabrina Korgut estão impecáveis. A direção de Tadeu Aguiar é muito cuidadosa para um texto e uma encenação tão cheios de pequenos “não-ditos”. A música de Ivan Lins se encaixa muito bem com a trama. Enfim, está feita a sugestão: o espetáculo é imperdível.
Quero, agora, me aprofundar no texto de Eduardo Bakr. Já li outros textos dele. Já li alguns de seus livros infantis. Eduardo é um talento. A temática do amor é necessária; porém, sempre perigosa. Amar, aliás, exige coragem. Falar de amor, também.
O amor tem uma face? Qual seria a face do amor?
No alto do prédio, alguém pensa em desistir da vida. Ou não. No alto do prédio, alguém lá está por alguma intuição de conhecer um amor. Desistir da vida pela ausência de amor? Não, a personagem não queria cair, queria flutuar. Mas esses descuidos podem ser fatais. Não quando surge um amor. Será?
Passado o susto do primeiro encontro, a surpresa das diferenças, nasce a rotina. Os dizeres que ora aquecem, ora esfriam, uma história de amor. A ausência de cuidado é sempre um perigo. Mas o amor tem 4 faces?
Os gregos usavam o número 4 para falar de completude. Os primeiros filósofos das províncias jonicas da Grécia ousaram sua explicação para o princípio de tudo a partir de 4 elementos: terra, água, ar e fogo. Aristóteles falava em uma vida correta, tetragonalmente correta, isto é, correta em todos os lados, perfeita, portanto.
O amor é perfeito? Refaço a pergunta. O amor real é perfeito? Ou apenas o ideal? Ou a perfeição estaria apenas no Amor Maior? Os amantes, certamente, não são perfeitos. E isso fica claro no texto de Eduardo Bakr e na vida. São as imperfeições que nos arregimentam para vivermos juntos. E por que, então, temos medo de falar em complementariedade? O final da peça é feliz. Justificadamente feliz. Como as lindas histórias de príncipes e princesas que nos acalmavam nos nossos inícios. Éramos pequenos quando ouvíamos essas histórias, sofríamos nas tramas que uniam o início explicativo ao final apoteótico. Sempre há algo de incômodo a invadir os nossos cômodos. Éramos pequenos. Em matéria de amor, seremos sempre pequenos. E, paradoxalmente, grandes. Magias do amor. Elevamo-nos como a personagem que queria flutuar. Elevamo-nos ao pensarmos no outro. E nos apequenamos com pequenezas que não deveriam existir.
Nas 4 faces do amor, há um momento em que parece que as despedidas são necessárias. Até são. Há muitas partidas nas nossas travessias. Mas o autor é generoso e o espectador sai com vontade de amar. Com esperança de, enfim, ver o sonho do amor alcançado.
Amanda Acosta, André Dias,Jarbas Homem de Mello e Sabrina Korgut em
4 FACES DO AMOR, o musical
De Eduardo Bakr
Músicas de Ivan Lins
Direção musical de Liliane Secco
Direção de Tadeu Aguiar
Sexta a domingo no Teatro Nair Bello