Educação em Foco

Jovens sem segredo

As novas gerações tratam a questão da privacidade de forma mais descomplicada do que as gerações antigas. Outro dia, minha filha de 15 anos me disse que havia encontrado um “superamigo”. Eu, feliz, logo perguntei quem era o “superamigo”, qual o nome dos pais, onde ele estudava, onde haviam se conhecido. Para minha surpresa, ela só soube me dizer o nome dele. Aliás, o apelido.

Gelei. Minha reação foi de medo. A dela foi de tranquilidade. “Ah, pai, sei lá, acho que o conheci no Face. Acho que ele é amigo de outra ‘superamiga’.”

É incrível como as novas gerações tratam a questão da privacidade de uma maneira tão mais descomplicada e, infelizmente, às vezes, mais inconsequente do que as gerações mais antigas.

Lembro que quando era garoto, falar com estranhos ou aceitar algo na rua era perigosíssimo. Ganhar uma bala então, nem pensar.

Os pobres vendedores de doces da porta da escola eram demonizados. Segundo o dito popular, havia grande chance de que tivessem colocado alguma droga nas balas. E elas certamente me levariam a um vício irremediável. Verdadeira ameaça para a família.

As novas tecnologias estão redefinindo conceitos sociais básicos, como exposição (ou exibição), amizade e confidencialidade. Muitos desses jovens da nova geração usam a tecnologia como impulsionadora de comportamento aberto.

Com um celular na mão e uma conta num blog ou numa rede social, transformam-se em paparazzi globais. Falam de tudo, para todos. Não há restrição do que pode ou não ser publicado. Muitas dessas publicações juvenis, porém, fazem sentido quando se tem 15 anos de idade. No entanto, são embaraçosas quando o jovem se depara com momentos pertinentes à maturidade.

Acredito que o conceito de privacidade está mudando com o passar dos tempos.

A tecnologia, por incrível que possa parecer, também tem influência direta na maneira como lidamos com as informações confidenciais. E não estou falando somente da internet e do que colocamos lá. Os meios de pagamento, as lojas virtuais, os buscadores, as redes sociais. Todos têm uma capacidade única de oferecer serviços cada vez mais personalizados, utilizando-se de informações permitidas e disponibilizadas pelos usuários.

Mas a condescendência com informações confidenciais mais abertas não é novidade. Costumo dizer que, desde a época em que tínhamos de colocar o telefone, o número do CPF e outros tantos dados anotados no verso de uma folha de cheque, a privacidade nunca seria como antes.

Hoje é absolutamente normal que adolescentes criem seus próprios blogs ou usem as redes sociais para registrar a sua história na internet. Neles, compartilham suas experiências abertamente. Divulgam fotos dos amigos, relatam as viagens com a escola, as primeiras baladas, os primeiros namoros.

À medida que esses jovens amadurecem, percebem que essas informações deixam de ter o sentido que tinham há cinco, dez anos. No entanto, a tecnologia é perene. E essas informações estarão disponíveis para sempre.

Imaginem aquele blog criado para compartilhar as aventuras colegiais, as bebedeiras, as baladas e outras tantas peripécias na mão de quem está avaliando o currículo de um jovem postulante a seu primeiro emprego…

Recentemente, uma pesquisa da Universidade da Califórnia, em Berkeley, mostrou que, com o passar dos anos e o avanço da maturidade e do interesse pelo mercado de trabalho, mais da metade dos jovens adultos se dizem mais preocupados com a privacidade na internet do que há cinco anos.

A boa notícia é que esses jovens estão também muito mais espertos tecnologicamente. Sabem que as redes sociais e outros sites da internet têm uma preocupação central em permitir o controle da privacidade através de ferramentas bastante simples.

Minha mensagem para os jovens: a tecnologia não vai apagar o que você tornou público. E, sim, não importa quanto e nem onde você se conecta. É importante saber diferenciar o que é público e o que é privado. Fica a dica.

Fonte: Folha de S. Paulo ( por Alexandre Hohagen)

Correção da redação será mais criteriosa neste ano, diz Inep

No Enem, a redação é um capítulo à parte da prova – tanto pela característica da proposta quanto pelas polêmicas em torno das notas. E, a partir deste ano, o Inep, que organiza o exame, promete ser mais criterioso.

O órgão diminuiu o limite de discrepância entre as notas dos dois corretores da redação. Se a diferença for maior que 300, numa escala que vai a 1 mil, o texto vai para um terceiro corretor – antes, o limite era de 500 pontos.

Na prática, a nova regra vai ampliar o número de redações que terão a terceira leitura, o que confere uma correção mais justa – o Inep não informa quantos tiveram esse benefício em 2010.

Em edições anteriores, houve uma série de reclamações em relação às notas da redação. Alunos pediram à Justiça a revisão da nota. O colégio Objetivo, por exemplo, recorreu à Justiça pela revisão da nota de uma aluna porque a avaliação estaria muito abaixo do perfil dela.

O diretor do Objetivo, João Carlos Di Gênio, entende que a novo padrão é positiva. “Agora foi para um valor bom. Mas o problema no Enem é que são muitos corretores. É difícil que todos tenham a mesma competência.”

Em 2011, serão 3.190 corretores e 160 supervisores, que fazem a terceira leitura. Cada corretor deve ler, em média, 3,3 mil redações em um período médio de um mês. Comparado com outros vestibulares, é um índice alto – na Unicamp, considerada uma das instituições mais cuidadosas com a redação, essa média fica em torno de 2,6 mil.

Ainda há diferenças no preparo dos profissionais. Na Unicamp, são três fases de treino ao longo do ano. “E antes de começar o trabalho, há mais uma semana de preparo”, explica o coordenador do vestibular da Unicamp, Maurício Kleinke. O Inep afirma que todos os corretores passam por treinamento presencial, mas não detalhou como ele é realizado.

No Enem, serão aceitas redações de no mínimo oito linhas. Diferentemente de outros vestibulares, o candidato precisa escrever uma intervenção à problemática do tema.

Fonte: jornal O Estado de S. Paulo

 

O preconceito está em nós

A escola não é uma ilha, e entre alunos e professores estão presentes as mesmas relações de uma sociedade que estimula o individualismo e vê a solidariedade como se fosse um favor e a tolerância como covardia. A nós, educadores, usualmente defensivos, cabe uma posição mais consciente e deliberada contra essa cultura de agressividade, começando por identificar e combater atitudes que comprometem o convívio escolar e envenenam a vida social.

O preconceito não é só coisa de grupos sectários, como skinheads, pois surge, às vezes, da tola pretensão de valorizar a si mesmo ao depreciar diferentes escolhas religiosas, estéticas, desportivas ou musicais. Ele pode se manifestar, às vezes, disfarçado de humor, como na humilhação – ou bullying – de um estudante por seu sotaque regional ou pela forma como se veste. Uma escola que admite posturas como essas, por não reconhecer seu potencial destrutivo, abre caminho para discriminações de etnia, idade, origem, gênero e classe.

Muitas formas de intolerância resultam de visões e superstições presentes nas relações familiares e afetivas e de valores disseminados na sociedade. Em oposição a isso, a escola deve estimular crianças e jovens a identificá-las em piadas, notícias, torcidas esportivas, filmes de ação e novelas e discutir suas origens sociais e históricas. A atividade é adequada a diferentes disciplinas.

As práticas de segregação por condições de vida, preferências ou deficiências também podem ser identificadas e debatidas por meio da dramatização de reações possíveis de jovens e de educadores diante da imagem de um trabalhador urbano saindo imundo de um bueiro ou do sorriso bondoso de uma criança com síndrome de Down. Ao mostrar como os preconceitos são usualmente reforçados por constrangimentos ou revelados pela intolerância, em situações que demandariam compreensão e solidariedade, questionam-se atitudes de professores na sala de aula, por exemplo, ao tratar com alunos que têm diferentes ritmos de aprendizagem.

É difícil não discriminar, pois, ao generalizar experiências pessoais, já prejulgamos. Mais complicado ainda é reconhecer como desfiguramos traços de caráter e sentimentos pessoais ao descrever quem estranhamos. Ao nos referirmos a jovens da escola privada como patricinhas e aos da escola pública como pivetes, por exemplo, estamos revelando nossa própria grosseria e insensibilidade pelo simples uso desses termos – e é bom ter consciência disso.

Os julgamentos preconceituosos, no entanto, nem sempre são definitivos, assim como as afirmações científicas. O que parecia bem compreendido há alguns anos, como a constituição e a expansão do Universo, hoje apresenta vários pontos obscuros. Por isso, valorizar a variedade de culturas, o questionamento dos saberes e a necessidade do contraditório é o que devemos fazer sem propagar outro mito, o da neutralidade absoluta. A escola é um espaço de diversidade privilegiado para aprender a resolver conflitos e saborear a graça do convívio com a diferença. É assim que ela combate os preconceitos.

Ler é inventar problemas

A leitura é ato criativo, o que significa pensar nos diferentes modos de ler e nos mais surpreendentes objetivos por parte do leitor. Posso praticar a leitura como distração ou como tarefa vinculada a uma pesquisa acadêmica, como forma de aprender a escrever, como busca de soluções profissionais ou existenciais, ou como inspiração para conhecer a mim mesmo, ou como forma de preencher a solidão, ou como caminho de solidariedade.

Uma outra maneira de ler é a filosófica. Ler filosoficamente é ler para pensar. Não um pensar qualquer, exercício mental apenas. Filosofar é um pensar responsável, em busca de tudo aquilo que nos torne mais humanos.

A leitura com espírito filosófico não teme inventar problemas. Tudo o que não inventamos é falso, repetindo o poeta Manoel de Barros. O encontro com as verdades humanas depende de nossa abertura para o inesperado. Ir ao encontro dessas verdades é um modo radical de estudar.

Leitura como encontro

A leitura inventiva não inventa do nada. O encontro filosófico com as palavras requer o cumprimento de algumas exigências. Uma delas é deixar que o texto de um autor entre pelos olhos e ouvidos. O trecho de um texto maior será saboreado sem desgastar-se. Vejamos, por exemplo, o primeiro parágrafo de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, do escritor moçambicano Mia Couto:

A morte é como o umbigo: o quanto nela existe é a sua cicatriz, a lembrança de uma anterior existência. A bordo do barco que me leva à Ilha de Luar-do-Chão não é senão a morte que me vai ditando suas ordens. Por motivo de falecimento, abandono a cidade e faço a viagem: vou ao enterro de meu Avô Dito Mariano.

Primeiramente, deixar-se impregnar pelas palavras – sonoridade, sentidos, as imagens que evocam. O parágrafo a ser contemplado possui três períodos.

No primeiro período, a imagem do umbigo. O umbigo é uma cicatriz. Nasce de um corte. Antes do corte, o parto. Associando parto e morte, Mia Couto inicia sua história, uma viagem ao centro da vida. A morte, como o umbigo, lembra uma existência anterior. Na cicatriz, a ausência de algo diz tudo, nas entrelinhas. A morte, mais do que ausência de vida, é sinal de que houve vida. Estamos diante de uma permanência disfarçada de ausência.

Ler e reler o primeiro período faz a comparação cada vez mais nítida. A morte é como o umbigo. A cicatriz é lembrança da vida. Filosofar, como diziam os antigos, é aprender a morrer, o que nos ensina a viver melhor. A lembrança de uma existência anterior ao parto, associada à de uma existência anterior à morte, insinua um pós-morte em equivalência a um pós-parto.

Aprender a morrer é, então, um aprender a nascer? Eis um problema inventado pela leitura filosófica.

O segundo período fala da morte como algo que atua e direciona os vivos. A morte vai ditando suas ordens. É um capitão – ou melhor, é capitã comandando o barco dos vivos. O narrador está a bordo do barco. Seu destino é uma ilha. A ilha, um lugar à parte, leva a pensar no além. Para além da terra firme, uma outra terra firme. Mas é preciso fazer a travessia, sob o comando da morte.

Para onde, então, a morte nos leva? Este é mais um problema inventado.

A morte volta a ser mencionada no terceiro período. O que não incomoda o espírito filosófico. Filosofar é abandonar a cidade, fazer a viagem, sair de si. O que há de habitual na cidade deve ser abandonado. O que há de conhecido e seguro na cidade deve ser substituído pela viagem. O enterro do avô é o motivo da viagem. O corpo ainda não foi enterrado. A viagem tem um destino. O viajante vai em direção ao morto, ao encontro do mistério. Se o enterro é ato sagrado, a viagem também.

Outro problema inventado – quando começarei a fazer a viagem decisiva?

Leitura como jogo

Outra exigência da leitura filosófica é entrar no jogo, e jogar até o fim. O poeta brasileiro Felipe Fortuna escreveu um poema intitulado “Tetris”:

A vida aparece aos poucos:

sua construção de acaso

não decifra o dia seguinte.

Bloco sobre bloco se executa

a obra que corrói o corpo.

Nós somos pouco.

Um dos mais antigos (e até hoje um dos mais viciantes) jogos eletrônicos, o Tetris nasceu em 1984, na União Soviética. Na tela, tetraminós (blocos formados por quatro quadrados iguais) vão descendo sem parar. O objetivo é empilhá-los de modo a formar linhas horizontais perfeitas. Cada linha que se forma, desintegra-se, e as camadas superiores descem um pouco mais. Ganham-se pontos. O jogador que em dado momento já não consegue criar linhas horizontais é vencido pelos tetraminós.

A vida é como os tetraminós: fatos, pessoas, formas variadas vão surgindo sem parar. Cada vez que conseguimos completar uma obra, construir alguma coisa, essa coisa deixa de existir como desafio. E novos fatos, outras pessoas, outras formas continuam surgindo.

Mas há um momento em que não conseguimos dar conta do recado. E o jogo termina. Somos incapazes de vencer o tempo todo. O que não impede que inventemos um novo problema: seria possível jogar para sempre? Em tese, sim, seria possível. Contudo, por mais entusiasmante que seja o jogo da vida, a evidência é que “somos pouco”.

Ler é jogo viciante. Cada linha horizontal que construímos como leitores dissolve-se diante de nossos olhos. E outras linhas vão sendo criadas. E somos sempre pouco. Dentro em pouco, seremos superados. Somos pouco para tantos livros, tantos autores. Somos pouco para tanta vida.

O poeta afirma que ele é pouco, e que somos pouco. A leitura filosófica admite essa verdade. No entanto, o paradoxo persiste. Ao mesmo tempo que afirmamos sermos pouco, algo em nós resiste. O poema se refere ao “dia seguinte” não decifrado. Hoje, somos limitados. Hoje, perdemos o jogo. Mas (outro problema  inventado) quem disse que o dia seguinte não virá?

Fonte: Revista Educação (por Gabriel Perissé)

Presos no mundo, soltos na rede

Uma pesquisa apontou, em 2005, as crianças brasileiras como as que mais assistiam à televisão. Será que a situação mudou de lá para cá? Ou nossas crianças continuam campeãs nessa modalidade?

Pode ser que tenham trocado a televisão pelo computador, porque uma pesquisa atual revelou que nossas crianças são as que acessam as redes sociais mais cedo. Ou será que somaram as horas em frente à TV com as horas diante do computador?

Muitas crianças, aos nove anos, já tinham telefone celular e o usavam com intimidade. Agora, com essa mesma idade, muitas já possuem vários outros aparelhos, com funções variadas. O tablet é apenas mais um deles que permite acesso à internet.

Criar páginas e perfis em sites de relacionamento é uma entre as várias atividades que os mais novos podem realizar na internet.

O curioso fica por conta de um detalhe: esses sites não são indicados para crianças. Pelo menos, não para as que têm menos de 13 anos.

Muitos insistem que nossas crianças se mostram cada vez mais precoces. Apostam que elas sabem o que querem, que usam todos os recursos da informática de forma até melhor que os próprios pais e outros adultos da família, que têm vida social intensa etc.

Por outro lado, com a violência urbana, as crianças têm sido cada vez mais tuteladas em sua relação com o mundo real.

Os pais temem que seus filhos transitem pelo mundo público desacompanhados. Desse modo, crianças e adolescentes vão de casa para a escola sempre levados pelos pais ou por seus substitutos, assim como para festas e outros locais que frequentam. Mas, nesses locais, ficam sozinhos ou com seus grupos.

É comum vermos grupos de crianças entre nove e 12 anos nos shoppings sem a companhia de adultos, não é?

O mais provável é que seus pais as levem até lá e marquem uma hora para buscá-las depois que a programação planejada terminar.

Mas, nesse intervalo de tempo, as crianças ficam sozinhas. Como o local é fechado, os pais consideram a situação segura.

Da mesma maneira, consideram segura a relação dos filhos com a internet.

Mesmo com todos os alertas que têm sido dados, o mundo virtual parece bem menos ameaçador do que o real, para os pais.

Agora, vamos juntar algumas informações que temos.

Escolas têm tido dificuldade para contribuir positivamente com a socialização de seus alunos no espaço público. A explosão de pequenas violências entre eles no espaço escolar -fenômeno que tem sido chamado de bullying indiscriminadamente- é uma prova disso.

Além disso, a própria competição escolar por boas colocações, classificação etc. em nada ajuda na socialização dos mais novos.

Quanto aos pais, esses socializam seus filhos para o convívio no espaço privado, que é marcado pela afetividade. E, nas cidades, não há outro espaço além da escola que tenha a função de contribuir de maneira educativa com o processo de socialização dos mais novos.

Isso significa que eles têm crescido sem aprender, no conceito e na experiência, a conviver respeitosamente com o outro com quem não tenha vínculos afetivos.

E tem mais: também não aprendem a proteger a sua intimidade e a sua privacidade. Aliás, talvez nem aprendam o sentido disso.

E, quem não aprende a ter habilidade social no mundo real, como poderá ter habilidade no mundo virtual?

Precisamos pensar nisso antes de considerar os inúmeros e reais benefícios que as crianças podem colher no mundo da internet.

Fonte: Folha de S. Paulo (por Rosely Sayão)

Opinião: choque de realidade

Para mudar a condição das coisas é preciso uma dose de coragem e outra de humildade. Na questão da Educação no Brasil, ter coragem de encarar a má qualidade da formação inicial de nossos professores e valorizar a carreira docente são passos fundamentais para realizar a mudança estrutural de que o País precisa.

A sofrível qualidade da nossa Educação é um fato indiscutível. Inúmeros estudos e pesquisas identificam as causas da baixa qualidade de nossas escolas e indicam o que pode ser feito para que no futuro possamos figurar entre os 20 melhores países em Educação no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

Não existe receita única, mas os melhores sistemas de Educação do mundo, como o da Finlândia e o da Coreia do Sul, apontam caminhos. Um deles merece destaque: professores bem preparados, com foco no aprendizado dos alunos e com carreira atraente,à altura de sua importante missão.

O Brasil ainda enfrenta um problema específico que demanda soluções urgentes: a falta de professores. Se não abrirmos os olhos, não teremos professores suficientes para suportar a quantidade de alunos que entram nas escolas a cada ano. Esse déficit de professores já é uma realidade, pois faltam educadores generalistas na pré-escola e no ensino fundamental I.

O déficit de especialistas do segundo ciclo do ensino fundamental em diante é ainda maior. O censo escolar de 2009 mostra que somente 23% dos professores que dão aula de Física são formados em Física. A situação não é diferente em Química, Matemática e Biologia.

Para completar esse quadro, a qualidade de ensino das faculdades de Pedagogia, em geral, deixa a desejar.Temos dois fatores que contribuem para essa situação:a formação inicial dos professores está impregnada de um conteúdo acadêmico mais preocupado com a filosofia e a história da Educação e com as diferenças teóricas entre as metodologias pedagógicas do que com as práticas em sala de aula.

Um professor sai da faculdade sem a menor ideia de como lidar com os alunos numa situação real de classe. Tampouco entende como sua disciplina dialoga com o contexto das outras matérias. Infelizmente, as universidades estão mais preocupadas com produção de trabalhos acadêmicos e com disputas de poder interno do que com uma formação que ajude os alunos na sala de aula, onde a Educação de fato se dá.

Outro fator preocupante é a baixa atratividade da carreira. Apenas 2% dos vestibulandos aspiram a uma vaga nas faculdades de Pedagogia.

Precisamos transformar esse círculo vicioso em virtuoso: formar professores focados e comprometidos; criar padrões de formação, exigir das faculdades que coloquem o aprendizado e a sala de aula no centro do debate, incluindo no currículo questões como gestão de sala de aula, diversidade, uso de resultados de avaliações para melhorar o aprendizado, estratégia de sucesso escolar, entre outros.

É preciso criar espaço para que os estudantes de Pedagogia e licenciatura possam interagir com alunos de forma monitorada para que o futuro professor possa progredir e se profissionalizar. Esses mesmos padrões devem servir também para avaliar o progresso na carreira docente, e o bom professor deve receber incentivos, de acordo com os padrões determinados e com o desempenho dos seus alunos.

Para que essas mudanças ocorram,é preciso vontade política e apoio da sociedade. É impossível mudar a qualidade da Educação de um país sem mexer radicalmente na qualidade da carreira de professores, tornando-a mais valorizada e atrativa.

Devemos ter como uma das grandes metas do País fazer da profissão de professor uma das cinco mais admiradas pela sociedade civil nos próximos cinco anos.Isso,sim,pode provocar a mudança necessária para alcançarmos a Educação que desejamos para o Brasil.

Fonte: O Estado de S. Paulo (por Ana Maria Diniz)

Inclusão e crescimento econômico

No último artigo, mostrei que a educação estimula o crescimento econômico por meio de mecanismos como a elevação da produtividade do trabalho e a criação e adoção de novas tecnologias.

Para que isso ocorra, é fundamental elevar a qualidade da educação, medida pelo nível de aprendizagem dos alunos. A educação também afeta o crescimento por meio de outro canal: a inclusão econômica e social.

Como argumenta Michael Spence no recém-lançado “The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World”, a inclusão é essencial para o crescimento sustentado, por dois motivos.

A primeira razão é que o crescimento econômico é um processo de aprendizado, no qual novas tecnologias e produtos são continuamente descobertos e tornam os processos anteriores obsoletos.

Para que essa dinâmica funcione, ela deve ser inclusiva -tanto para incorporar consumidores que demandarão novos produtos como para criar condições para que surjam empreendedores que satisfaçam essa demanda.

Nesse processo, a educação eleva o nível de renda e favorece a inclusão de amplos segmentos da população no mercado consumidor. Além disso, uma educação de qualidade cria condições para que os empreendedores sejam capazes de identificar novas oportunidades e os trabalhadores tenham flexibilidade para se adaptar diante das mudanças.

Ou seja, a importância da educação -de qualidade- aumenta na medida em que a economia fica mais complexa e as tecnologias tornam-se mais sofisticadas.

A segunda dimensão da inclusão para o crescimento está relacionada à noção de justiça social. Uma sociedade em que há igualdade de oportunidades estará mais disposta a fazer os sacrifícios necessários para viabilizar investimentos que geram crescimento econômico.

Por outro lado, a percepção de que os benefícios do crescimento ou os custos de crises econômicas não estão sendo distribuídos de forma justa pode gerar dissenso ou mesmo conflitos sociais, como tem ocorrido em vários países do mundo nos últimos meses.

Essa percepção é muito prejudicial para o crescimento. Além do aumento da incerteza, que reduz o investimento, as tensões sociais muitas vezes inviabilizam um consenso mínimo em torno do apoio a políticas que favoreçam a superação de crises e o crescimento sustentado.

Educação de qualidade para todos é a melhor forma de assegurar igualdade de oportunidades. Ela estimula o dinamismo econômico. Portanto, melhorar a qualidade da educação é componente fundamental de qualquer estratégia de crescimento com justiça social.

Fonte: Folha de S. Paulo (por Fernando Veloso)

O professor, o aluno e o futuro

Por Douglas Tufano

O professor é alguém que trabalha muito, mas quase nunca tem a oportunidade de ver plenamente o fruto do seu trabalho. Plantamos para que, mais tarde, alguém possa colher. Por isso, ao longo de meus quarenta anos de magistério, vi muitos professores desanimados porque têm a impressão de que seu trabalho não é importante, não contribui para nada significativo. Acho que pensar assim é um equívoco.

Poder participar do projeto de vida de um aluno, nem que seja apenas por um ano, é algo importante. Geralmente, não é aquilo que se ensinou que vai marcar um aluno, mas sim o modo como se deu o seu relacionamento com o professor. A troca de experiências, as palavras de entusiasmo e de ânimo que ele escutou, a convivência quotidiana – tudo isso pode ter um peso extraordinário na vida de uma criança ou de um jovem. Depois de tantos anos, ainda me lembro de alguns professores do Ensino Fundamental e Médio que me marcaram, que me ajudaram, sem saber, a fazer escolhas importantes na vida. Lembro-me de suas palavras, de conselhos, de exemplos. E isso ficou incorporado em mim, passou a fazer parte do meu modo de pensar e agir. Gosto de pensar que, ao longo desses anos todos, também pude ajudar muitos alunos a tomar decisões que mudaram suas vidas.

Hoje em dia, num mundo que se transforma tão rapidamente, a principal contribuição do professor deve ser criar nos alunos o gosto pelo conhecimento, o desejo de aprender sempre mais. O professor deve esforçar-se por manter acesa a chama da curiosidade intelectual. Num mundo que não para de mudar, ter essa disposição mental é importantíssimo.

Fala-se muito em motivar o aluno, em apresentar aulas interessantes, movimentadas, em facilitar a aprendizagem etc.É claro que tudo isso é válido, sem dúvida, mas é preciso entender que nem sempre aprender é divertido. Nem sempre é possível converter um determinado assunto em atividades lúdicas, em que se aprende brincando. Há momentos em que é necessário haver concentração, leitura atenta, raciocínio. E isso cansa. Mas esse tipo de esforço é importante para formar um aluno crítico, para desenvolver sua autonomia intelectual.

Se esforço pessoal, nada se aprende, em qualquer atividade. Quem quiser ser um bom pianista, vai ter que praticar bastante; quem quiser ser um bom nadador, deverá treinar muito. O professor deve conscientizar os alunos sobre a importância da persistência, da dedicação, da perseverança. É preciso fazer o aluno desenvolver uma postura diante do conhecimento. Que ele saiba, desde o início, que aprender requer esforço. Não se pode enganá-lo dizendo que tudo é fácil, que ele sempre vai ter aulas divertidas. Não foi brincando que a humanidade conquistou conhecimentos, que a ciência avançou, que as artes se desenvolveram. Mas todo esse trabalho é recompensado com a aquisição de habilidades que ele poderá utilizar pelo resto da vida.

Por outro lado, isso é um desafio para nós, professores. A atividade docente pressupõe sempre uma postura humilde, a postura de quem está consciente de suas limitações e, por isso, deve estar preparado para aprender cada vez mais sobre a difícil arte de ensinar. Com o tempo, vamos identificando as atividades que mais entusiasmam os alunos, que facilitam a aprendizagem, que desenvolvem melhor certas habilidades. Por isso, a experiência de sala de aula conta muito para o bom desempenho do professor. Mas não é garantia de que funcione sempre. Pode ser que, em certas circunstâncias, o professor seja obrigado a repensar completamente sua didática para torná-la mais adequada a uma determinada classe, a determinados alunos. E é justamente por ser mais experiente que cabe ao professor mudar seu comportamento, e não, ao contrário, esperar que os alunos se adaptem a seu modo de ensinar.

Por isso, somos educadores. Por isso, vibramos quando vemos nossos alunos brilharem. E ficamos tristes quando eles não se saem bem. Mas não queremos vê-los desanimados, procuramos renovar o entusiasmo, mostrar-lhes que são capazes de superar as dificuldades e os obstáculos. E ao compartilharmos emoções e sentimentos, nos damos conta de que eles são mais do que alunos, são pessoas que entraram em nossas vidas, por isso, queremos o melhor para eles.

Os verdadeiros professores tornam a humanidade melhor. Por isso, são pessoas especiais.

 

Contador de histórias ajuda a alfabetizar crianças em hospitais

Crianças que passam por tratamentos médicos recebem ajuda de voluntários na alfabetização. Em alguns casos, as crianças não frequentam a escola e aprendem cada letra com a ajuda de enfermeiros, médicos e, principalmente, dos contadores de histórias que visitam os pequenos no hospital.

A voluntária Irene Tanabe, 36, que faz parte da ONG Viva e Deixe Viver desde 2004, foi quem levou os primeiros livros para Vitor logo que ele começou o tratamento contra insuficiência renal, aos oito meses de idade. Sete anos depois, ela continua carregando livros para o instituto, mas hoje é Vitor quem os lê.

Ela também conta histórias para outras crianças no Hospital das Clínicas, mas admite que tem uma relação mais próxima com Vitor. Para fazer o tratamento, ele vai ao hospital um dia sim, um não, enquanto espera por um transplante de rim.

Criada há 15 anos, a ONG tem cerca de 1.200 voluntários em nove Estados, que dedicam duas horas semanais ao trabalho. A seleção de contadores de história é feita uma vez por ano –o treinamento dura nove meses. Para 2012, as inscrições começam em fevereiro. Informações no site www.vivaedeixeviver.org.br

Fonte: Folha de S. Paulo (por Marisa Cauduro)

Escolas da América Latina e do Caribe têm infraestrutura precária, mostra estudo do BID

A infraestrutura e o acesso a serviços básicos de eletricidade, água, esgoto e telefone são “altamente deficientes” nas escolas da América Latina e do Caribe. Em 40% das escolas públicas e privadas, não há biblioteca, 88% não têm laboratório de ciências, 65% não contam com salas de informática e 35% não oferecem espaço para prática esportiva. Os dados constam do relatório Infraestrutura Escolar e Aprendizagem da Educação Básica Latino-Americana, lançado nesta terça-feira, 18, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O estudo leva em consideração informações sobre 16 países, incluindo o Brasil. Uma das conclusões é que há grande disparidade entre a infraestrutura disponível nas escolas particulares em relação à rede pública e ainda entre as que se localizam nas cidades em comparação às do campo.

A condição dos estabelecimentos de ensino que atendem à quinta parte mais pobre é ainda mais grave. Segundo o relatório, só a metade deles tem acesso à água potável e eletricidade, apenas 4% têm acesso à linha telefônica, mais da metade não têm biblioteca e quase nenhum tem laboratório de ciências, ginásio de esportes ou sala de computação. “Essas deficiências minimizam o potencial da escola em mitigar ou compensar as iniquidades que as crianças trazem de casa, já que muitas dessas carências estão replicadas nos lares dos estudantes”, aponta.

A comparação entre os países mostra que aqueles localizados na América Central apresentam os maiores déficits nos parâmetros medidos, seguidos pelo Paraguai e Equador, na América do Sul. Na outra ponta, estão os países do Conesul (Chile, Argentina e Uruguai), que contam com a melhor infraestrutura física. O Brasil, assim como o México e a Colômbia, ocupa posição intermediária entre as variáveis analisadas. O estudo destaca que, no Brasil, menos de 10% das escolas têm laboratórios de ciências, situação que se repete em El Salvador, na Nicarágua e Costa Rica.

O estudo também relaciona a infraestrutura das escolas com o desempenho dos alunos a partir do Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Serce), espécie de teste que foi aplicado a quase 200 mil alunos de 3 mil escolas da região. A principal conclusão é que aqueles que estudam em unidades mais bem equipadas têm um melhor aprendizado.

Um dos fatores que está mais “consistente e positivamente” relacionado com a pontuação dos alunos no Serce, segundo o relatório, é a presença de áreas de estudo como laboratórios de ciências, biblioteca e sala de computação na estrutura escolar. O relatório estima que haverá uma variação de cerca de 20 pontos na nota de um aluno de uma escola que conte com todos esses recursos em comparação à outra que não tenha nenhum desses insumos.

Fonte: jornal O Estado de S. Paulo (por Amanda Cieglinski)