09.05.2021
Gabriel Chalita
Dona Deia, hoje é dia das mães. E sei que seu coração dói. Enterrar um filho é desdizer o cordão umbilical, é inverter as lógicas, é desapropriar o direito de lamber a cria com a alma, de impedir a visão encantada de ver o fruto crescendo.
O fruto, Paulo Gustavo, cresceu. Se fez um homem capaz de emocionar um país inteiro. O fruto abraçou a autenticidade como princípio de vida.
Foi assim que ele fez com que pudéssemos conhecer a mãe, nas suas peculiaridades, no seu humor, no seu inegociável exercício de amar. Ele fez humor com respeito. Ele fez humor com inteligência. Ele fez humor com a pedagogia própria dos que perfumam o mundo com a sua existência. Nos perfumamos de Paulo Gustavo. No teatro, no cinema, na televisão, nas novas mídias, nas matérias que iam desvelando um pouco a sua vida.
Seu filho amou sem receios. E, sem receios, foi se apresentando como um colecionador de verdades. Nada de máscaras. Nada de sombras. Foi a luz da sua vida que clareou tantos preconceitos. Que aliviou tantas inseguranças.
Amou um homem, Thales, e por ele foi amado. E por ele é amado. A fotografia da história dos dois inspirou outros a não temerem as singularidades, princípio tão bonito do existir humano. Cada um é único e cada um tem o direito de ser feliz do seu jeito. De construir a sua trajetória ao lado de quem faz a travessia ser mais aconchegante. Thales também chora, hoje, a ausência do seu amor. Embora dentro dele, o amor permaneça.
A paternidade trouxe ao seu filho novas perspectivas. Ele não estará acompanhando o crescimento do Gael e do Romeu. Mas o Gael e o Romeu crescerão sabendo do pai que distribuiu sorrisos e plantou alegrias, do pai que rompeu barreiras e que fincou a bandeira da verdade onde pôde, do pai que fez do tempo e do espaço uma eternidade de sonhos e de realizações.
Eles vão rever, muitas vezes, ao seu lado, as imagens que ficaram do Paulo Gustavo e vão aplaudir, com a vida, a vida que decidiu dar vida a eles.
Hoje é dia das mães, Dona Deia. A senhora tem uma outra filha para beijar. A senhora tem uma história para agradecer. A senhora tem uma dor para conviver. Mas a dona Hermínia é forte. É ousada. E fez um contrato com a vida. Nada de desistências. Seu filho, que fez de tudo pela senhora, envia sinais de ternura pelas imagens e pelas frases que, miraculosamente, permanecem dentro da gente. E ele te diz: Feliz dia das mães. E ele sorri brincando de ser filho em outra estação. Uma que desconhecemos, mas que existe.
O vulcão de amor que é seu filho não acabou. Permanece onde não sabemos, apenas sentimos. Porque os sentimentos, talvez, sejam mais nobres que os pensamentos. Há muitas mães, como a senhora, que hoje gostariam de ter, no colo do cuidado, os seus filhos. E há muitos filhos que, também, se ressentem do vazio das mães que vivem na eternidade e nas memórias.
Eu sinto muita falta da minha mãe. E, então, te abraço na alma, comungando da falta que sei que seu filho faz. O seu filho virou um pouco irmão nosso. Rezamos por ele, torcemos por ele, choramos por ele. No plano humano, lamentamos a partida. No plano da fé, simplesmente agradecemos.
No curto espaço do seu existir, Paulo Gustavo eternizou os sentimentos mais lindos que elevam a humanidade ao lugar onde ela se reconhece humana. É humano o direito de sofrer e é, também humano, o direito de agradecer vidas curtas que alongam os sentimentos do mundo.
Querida Dona Deia, um ser de luz só nasce de um ventre de luz. Feliz, apesar da dor, dias das mães.